Crônica: Me passa as horas!!


   Foi um dia normal como qualquer outro, acordei cedo, tomei café, fui trabalhar com meus pais, normalmente. A tarde fui para a biblioteca onde faço trabalho voluntário e a noite para a Universidade, assistir aquela aulinha básica de poesia, pequena ironia já que o que veio a acontecer depois daria também um bom poema.
   A volta pra casa foi um tanto atípica. Entrei no ônibus e logo que começou a andar me levantei e fui sentar com uma amiga mais no fundo para conversar e dar umas boas risadas, em vez de dormir ou ler como vinha fazendo. Quando estava quase chegando em Carazinho voltei para o meu lugar onde fiquei conversando com mais dois amigos. E pouco tempo antes de descer mandei mensagens para que meu pai fosse me encontrar como faço todos os dias. Quando ainda estava no ônibus, minha amiga falou:
- Que estranho...
- O que? - eu perguntei.
- Sei lá... O Felipe pediu pra mim tomar cuidado na hora de descer... - Felipe é o namorado dela.
- Como assim? Por que? Você sempre desce no mesmo lugar, nunca nada aconteceu...
- Eu não sei, ele disse que está com um mau pressentimento.
   Claro que eu achei aquilo muito estranho, mas não dei muita atenção. Desci do ônibus bem em frente a rua que sobe para a minha casa. Olhei para todos os lados como meus pais sempre pedem para que eu faça, não vi nada. atravessei a rua e comecei a subir.
    Quando cheguei na esquina e percebi que meu pai não estava me esperando, olhei para trás, e me deparei com um ser correndo atrás de mim com as mãos levantadas, até ai tudo bem, pensei, vou entregar a minha mochila e fim. Foi então percebi que em uma das mãos ele tinha uma faca. Nesse momento me desesperei e comecei a correr de costas, óbvio que em dois segundos ele conseguiu me alcançar. Esse é aquele momento que toda sua vida passa pela sua mente, você acha que vai morrer e pensa: "poxa podia ter comido mais Nutella", "Ai... porque não fiquei com aquele gato do meu ônibus..." ou "Poxa, antes de fazer 18 anos... nem vou ter tempo de fazer minha carteira de motorista".
    Então, ele segurou em meus pulsos e me derrubou no chão. Meus óculos também caíram e não enxerguei mais nada nitidamente. Sabe, é como se eu me visse em um filme de terror: você vê o vilão correndo com uma faca atrás de você (para um melhor efeito o imagine como Jason Voorhees do Sexta-Feira 13), então você começo a correr, você é a protagonista e como toda boa protagonista tem que tropeçar e cair em algum momento... E eu que sempre achei que aquelas loucas dos filmes é que eram tapadas. Enfim, quando cai comecei a gritar desesperadamente, pois pensei que ele ia aproveitar que eu estava no chão e ia me esfaquear, desmembrar meu corpo, cortar ele em 537 pedaços e jogar pros peixes em um rio qualquer ou sei lá mais o que. Mas então ele guardou a faca e me mandou calar a boca, e depois disse:
- Eu só quero saber as horas!
    Eu pensei "Cara&%#@, as horas? Como assim? Como se precisasse de uma faca para isso!" Pois é pessoal... Tempos de crise, as coisas estão tão difíceis hoje em dia que o sujeito sai na rua com uma faca para pedir as horas. Algo assim: "Me passa as horas ou eu te mato!". Logo as pessoas vão começar a usar revólveres para saber a previsão do tempo: "Será que chove hoje desgraçado?!? É melhor você dizer que não viu...". Tenho que tomar cuidado também na faculdade, vai que alguém resolva pedir a borracha emprestada usando um rifle, ou sei lá: "Passa, passa, passa, a borracha, vamo logo, passa isso ai!!"
    Mas apesar de tudo, posso dizer que depois que disse as horas para o cara que me perseguia, ele foi embora e eu pude voltar pra casa, com tudo dentro da mochila... E ainda vou fazer 18 anos, não é ótimo?!? Só um aviso para os desavisados... Hoje em dia é sempre bom andar com um relógio de pulso!! ;)
   

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